quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Até quando ficaremos esperando?


A ditadura militar no Brasil se configura em um dos períodos mais vergonhosos da política nacional. Um momento em que a tensão era extrema e boa parte da população assistia "bestializada" tudo que se passava ouvindo e assistindo programas e seriados de TV nos moldes estadunidenses para esquecerem a capacidade de mobilidade social que o povo possuía com a pregação de uma sociedade supostamente democrática e temente a deus. Tenta-se aos dias atuais remexer nos famigerados documentos ainda escondidos, como se temessem conhecer as atrocidades que já conhecemos e imaginamos que talvez seja ainda pior.
Fico me perguntando sobre isso. É necessário remexer nas feridas deixadas pelos porões da ditatura e punir os que ainda estão vivos e até fazer menção aos mortos. ACM teve enterro histórico, quando na verdade merecia morrer apodrecendo na cadeia. Os pais e filhotes da ditadura ainda estão aí. Conseguiram êxito político em função do suor e sangue derramados nas celas e no solo brasileiro. Fico indignado com a postura de certos "companheiro", "nossos representantes" no legislativo que deletaram de suas mentes esse perído tão cruel e desumano de nossa história. É necessário escancarar todos os documentos. Aqui na Bahia poucos anos antes do carlismo cair atearam fogo nos documentos da época. E ficou por isso mesmo. Não consigo compreender como tamanha atrocidade pode acontecer num Estado supostamente democrático. Eles ainda mandam e desmandam nesse país e temos que ficar de braços cruzados engolindo ainda a nossa dor por sede de justiça.
Estamos vendo o império cair aos poucos enquanto nossos corações anseiam que ele seja derrubado ainda quando os algozes estão vivos. É necessário a reparação a todas as famílias que ainda choram por seus filhos desaparecidos.
Enquanto isso vemos os filhotes e netos da ditatura posando de mocinhos com nome de partido político de conceito duvidoso (DEM) passeando nos palcos dos executivo, legislativo e judiciário.
Percebemos que a luta continua e que a mobilização da massa se torna evidentemente necessária para liquidarmos por de vez as manchas que ainda persistem.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fotografia


Não há nada melhor do que uma fotografia. Ela pode representar dentre muitas coisas, algo simples e objetivo. Fazer você sentir o mesmo gosto, o mesmo cheiro e sabor do momento vivido e eternizado. Por melhor que seja nossa memória, nunca conseguimos de fato relembrar tão bem de um momento quanto em uma fotografia. Revendo fotos de dois anos atrás eu percebi que muita coisa se passou e que foi preciso ver as fotos para perceber que o destino pode ser mais inesperado do que pensávamos que ele era. Vi tantos amigos que hoje tomaram tantos rumos diferentes do que sonhavam. Alguns foram além, outros estagnaram, alguns retrocederam, alguns nem lembram mais de nós ou pelo menos da nossa amizade e, ainda bem, poucos amigos se foram definitivamente. Seja em momentos alegres com a família, amigos, namoradas, em passeios, em trabalho, no que for, a fotografia é a mágica de eternizar a história num dado momento, num dado segundo que não volta atrás, mas que nos suspiros da saudade, nos faz sentir mais humanos e nos mostra a nossa impotência diante da cruel passagem do tempo. Alguém já disse que o tempo não para. Outros já disseram que ele existe assim como a matéria e que todas as coisas já aconteceram e nós só vemos o tempo passar como se assistíssemos a um filme. Seja qual for a concepção, não podemos deixar de perceber que a saudade das coisas vividas é uma das melhores sensações que o ser humano pode sentir. E quanto mais a gente puder tirar proveito dela para estarmos nos enriquecendo como seres humanos, melhor. Daí a fotografia entra como ponto chave para esta reflexão tão simples e necessária. Ela pode nos amadurecer, no sentido de que façamos constantemente análise daquilo que nos tornamos e possamos reativar laços perdidos no tempo e no espaço. Sempre há tempo em qualquer tempo.

domingo, 17 de maio de 2009

Internet: Ame-a ou deixe-a!


Essa semana fui surpreendido com a prisão de um grande amigo meu. Foi pego num ato extremamente “violento”, “agressivo” o que torna-o elemento de "alta periculosidade". Acusado de estar pegando um sinal de internet em seu computador de forma “ilícita”. Quanta “tempestade em um copo d’água”! Fiquei a imaginar quantas vezes milhares de internautas comentem “crimes virtuais” e não são presos. Acredito que teríamos de construir milhares de penitenciárias por todo o país e, será que teríamos gente andando pelas ruas? Gostaria de saber quantos computadores no nosso país que usam softwares originais? Quem nunca baixou nada da net? Os computadores dos órgãos públicos usam softwares piratas, desde sistemas operacionais, antivírus, editores de texto, imagem ou vídeo. Quanta hipocrisia em nossa sociedade! O conhecimento fica atrelado às “patentes” privando tudo à maioria das pessoas como forma de controle social. É notória a intenção de segregação num espaço que se mostrou tão “democrático” e “justo” que é a internet. Entendo que as leis devem ser constantemente reformuladas e antes de um processo de mudança, haver a real discussão com a sociedade, haja vista que nossas leis são burguesas e defendem o interesse da minoria. Nem tudo que é legal, é moral! A internet coloca em cheque muitos dos valores tão defendidos pelos “códigos” construídos para a preservação da “ordem” e promoção do “progresso”. Fico feliz em saber que estamos em um processo contínuo e sem poder retroceder. As leis e pessoas que se adaptem, pois serão deixados pra trás todos aqueles que se opuserem ao banquete de informações e dados compartilhados nessa tão interessante e importante rede.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Meu Pai...

Eu nem sei se meu pai terá a possibilidade de ler este texto, mas queria poder compartilhar com os leitores de algo que senti esta noite. Acredito que muitos tenham tido ou têm “problemas” com seus pais em casa. “Problemas” que possuem os mais variados valores e motivações, contudo peço que lhes permitam refletir em alguns pontos interessantes. Até hoje me pergunto o valor devido do meu amor aos meus pais, sobretudo a meu pai, com quem tive muitos dos meus variados desentendimentos. Com o tempo e até o afastamento da minha casa eu pude perceber que as pessoas são motivadas pelas circunstâncias que viveram. Tais motivações advindo de uma gama de situações que nem sempre se pode evitar ou mudar. Somos frutos de nosso meio condicionado aos processos históricos. Passei então a fazer uma análise da história de vida de meu pai. Consegui então uma resposta que pudesse ao menos abrandar uma história com muitos conflitos, pelo menos na minha cabeça esses desentendimentos tinham um peso muito grande. Percebo então que não conheço muito a história dele, mas desde menino já me permitia tentar entender o seu comportamento. Este cidadão passou a ser um referencial na minha vida e digno de todas as homenagens. Respeito muito e o admiro pela coragem de viver, por nunca ter acumulado um centavo, ter vivido e superado todas as dificuldades pra criar dez filhos com apenas a quarta série, ter feito de sua família uma família de referência em Elísio Medrado, por muitas vezes que não nos deixou assistir novela porque ele não gostava e de ter assistido um milhão de vezes os documentários da TVE ou TV cultura, por me fazer gostar de animais com as imagens fascinantes do Continente Africano e do resto do mundo, pelas centenas de vezes que me levou pra pescar e todo o ritual de cavar minhocas com o facão e ir correndo para pegar as piabas e garantir a pescaria noturna, por sonhar com seus projetos nunca acabados e que sempre desistia depois de concluir, com milhões de etc... Consigo enxergar que mesmo nos momentos de mesquinhez, ele não conseguia esconder a dureza com que a vida foi pra ele. Hoje, vive pra festejar com seus filhos a alegria de ter uma mesa farta e a presença de todos valendo mais do que qualquer presente.

Meus irmãos não brigam e não se desentendem. Todos se amam e dão a vida um pelo outro. Devo isso a meus pais. Percebo claramente uma coisa: a raiva que eu tinha não vinha do fato dele não demonstrar o que sentia por mim, mas, mais pelo fato de não poder demonstrar todo amor que eu sentia por ele. Então percebi o quanto tenho sido egoísta e que esse sentimento por demais me angustia. Quero dedicar esse texto a todos que não procuram as oportunidades que a vida ainda lhes dá enquanto estão vivos. Não procure uma mudança nos outros, sendo que não estás disposto a mudar. Procure deixar saudades nos corações daqueles que realmente nós amamos. Como já dizia Shakespeare, pode ser a última vez que os vejamos. Contudo não faça nada esperando receber o mesmo sentimento ou ação em troca. Não há, entretanto, coisa melhor do que a sua consciência tranquila. Procurou fazer o melhor de si e marcou positivamente a vida de todos. Agora vá, liguei pra seus pais e diga que os ama muito. Pegue uma foto sua sorrindo, coloque num porta-retrato e envie para eles...

terça-feira, 5 de maio de 2009

AMIZADE - TEMA JÁ ESGOTADO?


Acabei de me ater sobre uma coisa: muitos já escreveram sobre a importância da amizade, mas ninguém já escreveu sobre o quanto custa “caro” uma amizade. Quando se fala em “caro” pensamos logo em dinheiro. Mas gostaria que o leitor ampliasse a quantidade de conceitos dados para esta tão pequenina palavra.
“Amizade” – Isso ecoou literalmente na minha mente. Fui então fazendo uma análise dos tipos que considerava meus amigos e, tentar dessa forma, tirar a essência desta palavra que simboliza uma idéia tão abstrata e de difícil explicação. Até hoje não houve poeta sequer com poder tamanho para esgotar toda gama de apreciações para este doce e singular vocábulo: “amizade”. Certa amiga minha estava com alguns problemas de relacionamento com uma grande amiga de infância sua e me fez refletir a respeito de como encaro ou valorizo os meus amigos. Os meus amigos são muito importantes na minha vida pra perdê-los tão facilmente. Amizade é um investimento alto! Sabe o trabalho que dá ter um grande amigo? Você tem que percorrer horas de viagens, de passeios inesperados ou planejados, de brincadeiras engraçadas e sem graça, de piadas pra doer a barriga ou daquelas que dão vontade de chorar, de dormir nas mesmas casas ou nas calçadas depois de um grande show, de abraços, de choro, de alegrias, de consolo na doença ou na morte, e tantos e tantos outros motivos. Percebi que a gente acaba não só sendo amigo do amigo, mas de tudo que o cerca. É uma espécie de contrato com o espaço-tempo. Uma aliança sem testemunhas a não ser a nossa consciência somente. E isso não tem como apagar, portanto é de extrema responsabilidade manter. Só em pensar no trabalhão que teria para ter um novo amigo, prefiro os meus velhos e bons parceiros de guerra. Com todos os defeitos, mesmo porque também os tenho. Sei que esse será apenas mais um texto sobre o tema. Mas posso ver que apesar de tantas “decepções” que hora eram grandes no passado, hoje nem tanto, eu consegui perceber que existem tantas pessoas boas no mundo e ainda há muitas que preciso e quero conhecer. O ser humano ainda tem chance...

sábado, 28 de março de 2009

Enquanto isso na academia de musculação...

Quando se está em uma academia de musculação parece que entramos no universo dos grandes cientistas da anatomia e fisiologia humana. Nele encontramos sempre aquele que sabe mais como perder gordurinhas localizadas, como desenvolver este ou aquele músculo do corpo, sem contar nas mais variadas dietas para “pegar peso”, ou emagrecer. Vou tentar destrinchar algumas das mais variadas pérolas que ouvi enquanto malhava. Nas mais variadas conversas sobre anabolizantes, ouvi um indivíduo dizer que pra desenvolver tal músculo era necessário aplicar a injeção exatamente no músculo que ele queria desenvolver e, que se não fosse assim, não daria certo. Iria propor pra ele tomar uma picada de cobra extremamente perigosa e ficar despreocupado, pois se ela picasse em seu bíceps, só esse músculo seria atingido. Onde está a circulação sanguínea nessa história? Em outra conversa, (não achem que fico ouvindo conversas alheias, pois é impossível não ouvir quando estão berrando em seu ouvido) percebi um indivíduo afirmando a necessidade de se tomar um remédio para matar “vermes”. Segundo ele, só haveria a possibilidade de engordar e “crescer” se o corpo estiver limpo – onde está a pérola nisso aí? A questão é que ele estava falando, em especial, do Schistossoma mansoni, um platelminto muito encontrado no organismo de muitos aqui no Nordeste, sobretudo nas regiões onde ocorre algumas espécies de caramujo (hospedeiro intermediário). Interessante foi como o cidadão, citado acima, indicou a forma de adquirir esse “verme” em nosso organismo. Afirmou que só se deve comer fruta lavada e água fervida, pois o “vírus” entra no corpo facilmente. Ao redor dele estavam os curiosos atentos e absorvendo a informação “útil” para ser aplicada Às suas vidas. Coisa é quando começam a falar de time de futebol. Como não entendessem que o futebol é permeado, assim como muitas coisas na vida, de subidas e descidas. Ora um time está bom, ora outro. Gostaria muito que essa energia e empolgação fossem também percebidas na busca por um mundo melhor, na luta pela defesa dos nossos recursos naturais, da política séria e honesta, etc. Por outro lado, fico no dilema de intervir ou não intervir nessa “construção do conhecimento”. Todavia percebo que embora os meios de comunicação e acesso à informação estejam ampliados e facilitados, há muita gente alheia a tudo isso. Fico a imaginar que da mesma forma ao encontrarmos pessoas transmitindo “conhecimentos” e “fundamentos” de uma “ciência” não provada ou experimentada, assim são os nossos caros políticos facilmente ludibriando à população com discursos falsos e distorcendo a realidade. Enquanto isso, continuo indo à academia, em busca do corpo perfeito e de algumas pérolas a mais.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Gostaria de compartilhar com todos o texto do meu amigo Cecílio a respeito de minha nova música....


Documentário sobre Remanso lança música do compositor Daniel Cézar
Cecílio Bastos


Dá para notar na voz do cara: Daniel Cézar está empolgado com a sua mais nova composição, Meu remanso, que será lançada no próximo dia 6 de março no Departamento de Ciências Humanas da UNEB em Juazeiro/BA, durante a estréia do filme Dos que sobraram das águas. “É a primeira vez que vejo minha música vinculada ao cinema e isso revela ainda mais o conteúdo daquilo que componho”. Apaixonado por memória, o músico disse que foi angustiante explorar as sensações na canção, mas que a motivação ficou por conta do caráter de denúncia de ambas as produções.

Daniel Cézar, que também é historiador, mora hoje na cidade de Amargosa/BA, região do Vale do Jiquiriçá. Seu trabalho, ainda pouco conhecido, faz parte do autêntico círculo de música alternativa. Do som de raiz ao elétrico, busca sempre um repertório que provoca reflexão, fator que já lhe rendeu boas críticas. Autor de letras voltadas para questões sociais, Cezar explica que “esse tipo de música é difícil de se tornar visível e a chance de expor está no casamento com outras linguagens”.

A música Meu remanso, produzida especialmente para o filme e interpretada pelos estudantes de jornalismo Michael Ribeiro e Edésio César, incorpora elementos do pop music com algumas influências do forró e sonoridade da moda de viola. O conteúdo é inspirado na história oral da cidade de Remanso/BA, região do semi-árido inundada na década de 1970 para a implantação do Lago de Sobradinho. Foi no clima de nostalgia dos moradores da antiga região ribeirinha que o compositor desenvolveu a letra da música com versos polêmicos, saudosos e uma sonoridade tocante.

Dos que sobraram das águas é nome do documentário que conta histórias de pessoas que presenciaram a tumultuada desocupação da região inundada pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). O filme tem a direção das formandas em jornalismo Inês Guimarães e Patrícia Telles. Elas comentam que a música de Daniel “tornou o filme muito mais tocante e deu um direcionamento interessante ao roteiro”.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

NAS MINHAS ANDANÇAS...


Nessas minhas andanças pela minha memória deparo-me sempre com algumas lembranças de bons momentos na minha infância. Na realidade, geralmente é na infância que estão os melhores momentos da vida de todo mundo. Isso porque é uma fase em que a palavra preocupação não existia em nosso vocabulário e a nossa maior ansiedade é de qual brincadeira participaremos no outro dia. Ou a mesma brincadeira de sempre repetida um milhão de vezes e ninguém a dizer que está enjoado ou chateado. A imaginação efervescente de imagens quase que de manifestações esquizofrênicas por parecer tão reais as situações criadas ou os personagens vividos. Quem de nós não olha para esses momentos e suspira profundamente. Quando a gente vai crescendo e chega à fase da adolescência tudo nos parece perder o sentido e vivemos a partir daí buscando sentido pra tudo na vida. Talvez viver sem sentido seja de fato a melhor coisa, pois essa torturante epopéia nos desgasta de tal forma que é inevitável o estresse por ter de lidar ora com o real nu e cru, ora com nossos anseios e sonhos provenientes da infância e que ainda não nos desgarramos ainda. Há quem diga que esses sonhos são manifestações benéficas, haja vista que é um contraponto para não nos endurecermos tanto com a realidade. Todavia, volta e meia, estamos indo lá no fundo do baú de nossa memória para resgatar essa chama pueril e nos despir da capa da responsabilidade e da conduta devida de um adulto estressado. Somos pisoteados com a imposição do sistema pela competitividade, pelo consumo, pelo enriquecimento como forma de status social, etc. Todos esses dilemas começam então a incorporar meio que como uma infestação virótica sem possibilidade de soro ou vacina. Nisso deixamos de lado a pureza de sermos complacentes com a diferença, tolerantes com os erros alheios e com o coração aberto para perdoar sem terem que nos pedir perdão. Talvez devêssemos todos retornar à fase de quando éramos crianças. E me pergunto a cada dia como o ser humano pode dizer que cresce ao envelhecer, sendo que o envelhecimento pode, na maioria das vezes significar a destruição do que há de mais belo nos homens, a capacidade de ser humano. Ah meus velhos tempos de “mãe-de-lua”, “macaco”, “polícia-e-ladrão” e tantas outras maneiras de se viver na sociedade infantil.

sábado, 24 de janeiro de 2009

NO REINO DA CIDADE DAS POMBAS


Era uma vez um reino muito distante. Este reino era governado por um rei muito bondoso. Em seu aniversário costumava matar dois bois e um porco para dar a toda a população de seu reino estimado em quase quarenta mil pessoas. O mais curioso é que o dinheiro em que o rei usou para comprar os bois e o porco vinha dos impostos que a própria população pagava. De vez em quando o viam pagando uma cerveja para algum plebeu e dessa forma todos o achavam carismático, simpático e popular. Aqueles que eram empregados no reino recebiam salários baixos e eram constantemente humilhados em filas gigantescas para receber o seu dinheiro, isso quando recebiam. Ainda assim era um rei muito bondoso, segundo alguns. Nenhum dos seus súditos tinha coragem de encará-lo e dizer o que pensavam pois tinham o medo de perder o emprego. Mas ele era muito querido! Um dia acusaram-no de ter roubado muito dinheiro da população e seu nome apareceu em muitos panfletos e revistas. Ele acabou sendo afastado do poder e não foi preso apesar de ter sido comprovado muitos dos seus roubos. Mas a população estava saudosa do seu antigo rei, pois o que entrou depois dele, era um antigo companheiro e que todos percebiam que acabava fazendo a mesma coisa do outro. Novamente eles não podiam reclamar com medo de perderem o seu emprego. Logo depois a população mudou de rei novamente. Este último rei a população não estava gostando pois não matava bois em seu aniversário, nem contratava shows de artistas caros e famosos, mas trabalhava fazendo o seu dever de casa com a sua obrigação de rei. Apesar de todos agora poderem reclamar de seus direitos e não ter que enfrentar filas para receber o seu salário a população agora reclama com saudade do seu antigo rei ladrão. É triste perceber que em meio à democracia e a liberdade alcançada com tanto sacrifício e até sangue derramado, o povo deixa de lado o seu direito de ser livre por um pedaço de carne ou um copo de cerveja.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sendo invadido...

Violar a correspondência é um crime previsto em alguma lei de alguns desses códigos que os deputados aprovam, mas que ninguém tem conhecimento e nem quer ter. A não ser quando está diante de uma situação onde o indivíduo precisa conhecer pra se defender ou atacar. Isso é muito comum nos seres humanos ocidentais. Mas estou querendo falar a respeito de como os indivíduos passaram a se expor mais com o advento da internet, sobretudo, dos sites de relacionamento ou na comunicação via MSN Messenger. Sem contar na constante invasão ilícita por vírus e outros softwares para fuçar tudo que se coloca ou que já existe no computador, além das "invasões" permitidas nos sites de relacionamentos por aí. É possível conhecer os contornos dos corpos, mesmo que com Photoshop (E nem sempre ele faz milagres!), o nível de instrução, haja visto o grande número de erros ortográficos impressos nos subnicks ou nos comentários de fotos, scraps , depoimentos, etc. Parece que a Gramática Normativa deixou de existir com a possibilidade das abreviações na comunicação virtual. Voltando à questão da privacidade, por conta da impessoalidade do computador, me parece claro o aumento da coragem em expor-se para as pessoas estranhas. Talvez por não se ter a noção exata de quem poderia ter acesso ao conteúdo postado num blog ou Orkut, etc. Sem contar na falta de noção do ridículo o que acaba fazendo muito sucesso no site das “Pérolas do Orkut”. Passaria horas e horas dando risadas com as fotos engraçadas de situações tão inusitadas que beiram o extremo do ridículo. Contudo nem se sabe a real intenção do indivíduo ao estar posando para o mundo em situações não muito convencionais. Dei-me por conta que possuo um perfil no Orkut e com mais de trezentas fotografias. Um sentimento de pavor me assolou ao ponto de sentir-me por demais invadido por pessoas que não conheço e que podem estar fazendo tantos e quantos juízos a respeito de minhas fotos e talvez algumas já poderiam estar no famigerado site gozador. Não relutei ao apagar todas, deixando exclusivamente uma homenagem aos meus pais. Não sei necessariamente qual a minha intenção em fazer isso, contudo fiz. Todavia esse pode ser um estado momentâneo de crise. Mas, enquanto isso, vou dar uma espiadinha nas “Pérolas” pra ver se consigo dormir mais relaxado, depois de dar boas gargalhadas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Dona Rosa

Quando a gente é criança o mundo parece ter outro sentido. Costumava sentir mais o sabor das coisas. Gostava muito de comer bem devagar algum tipo de chocolate e me parecia que o mundo poderia acabar naquele momento, contudo não deixaria de estar sentindo o prazer do delicioso doce derretendo em minha boca. E as férias? Tinha um sentido tão forte. Lembro-me bem de como as frutas apareciam no verão. Particularmente torcia para que chegasse o verão e eu pudesse estar saboreando a sirigüela, o umbu-cajá, a cajarana, manga, etc.
Eu morava em uma rua numa cidade do interior da Bahia. À frente da minha casa moravam duas senhoras: Dona Rosa e Dona Antônia. Ambas já com idade avançada. Dona Rosa era extremamente simpática, já Dona Antônia, um pouco sisuda, contudo, agradável. Constantemente no verão, íamos na casa delas para solicitar que nos fornecessem o privilégio de desfrutar das sirigüelas que existiam no seu quintal. Dona Rosa aparecia na porta e com sua voz meiga nos mandava entrar. Lembro-me bem dela. Magrinha, olhos azuis, baixa e com as costas encurvadas. Sua irmã era mais cheia e aparentemente mais forte. Todas essas lembranças me vêm à mente acompanhadas de um fato bastante importante pra mim. Certo dia entrei na casa das senhoras e percebi uma aglomeração de pessoas. Fui a porta do quarto e percebi que haviam velas acesas e a doce senhora na cama. Ela estava quase imóvel. Só percebíamos o seu peito estufar e abaixar dando a noção de que estava ainda respirando. Vi quando uma senhora chegou com uma xícara de café e uma colher. Começava então a colocar o café na boca de Dona Rosa. Uma cena lastimável. Fiquei a tarde toda à beira da porta como se esperasse algo. Ouvia a todos conversarem e percebi que uma das senhoras falava a respeito de que não tinha mais jeito e que só esperavam a velha morrer. Eu observava Dona Rosa ainda respirando e torcendo para que ela pudesse surpreender a todos e levantasse da cama. Quem poderia agora me dar as sirigüelas? Aos poucos foi-se percebendo que a respiração dela ficava mais e mais lenta, até que cessou. Uma senhora veio e cobriu o rosto dela. Saí da casa sem perceber a profundidade do que tinha acontecido, contudo essa imagem não saiu da minha cabeça. Hoje percebo que aquele momento significou muito. Toda história vivida por uma pessoa se esvaindo até não existir quem pudesse de fato ouvir aquela doce voz e ver aqueles olhos azuis de ternura. Foi a primeira vez e talvez a única que vi a morte de perto. Ao mesmo tempo em que ela me pareceu ser muito natural. Entretanto, ver posteriormente a Dona Rosa em um caixão foi mais triste. Acompanhei o enterro e quando a terra foi jogada em cima do caixão, aquele barulho parecia ensurdecedor para mim. Via algumas pessoas pegando a terra com a mão e atirando. Me pareceu que queriam de fato se ver livre da senhora. Com o passar dos anos, Dona Antônia é encaminhada para um asilo e a velha casa é derrubada. Não havia mais sirigüelas, muito menos Dona Rosa. Havia a certeza de que um dia tudo pode acabar nesse mundo, tanto as sirigüelas, quanto as pessoas. Daí a incoerência de sonharmos sempre com a acumulação das riquezas se não duramos pra sempre. Pra sempre será, contudo, a imagem da bondade e da satisfação de fazer a alegria de uma criança com tão pouca coisa.

Daniel Cézar.

Produção de Café

Produção de Café
Daniel Cézar